sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Microcontos (091 a 094/2017)


Dália. Foto: MVBuosi,

Microcontos do dia 9/4/17 – Palavra do dia:



I

Treinou por dias a declaração de amor, palavra por palavra. Quando finalmente encontrou a moça, ela não lhe deu ouvidos.

− Manda um áudio. – pediu enquanto respondia as mensagens no whatsapp.



II

Ateu convicto, gastou as últimas palavras numa oração.



III

Não tinha palavras para descrevê-la, a não ser que, na cama, o seu braile era impecável.



IV

A mãe, vendo-o nas esquinas conversando e sem pensar em trabalhar, admoestava:

− A palavra é de prata e o silêncio é de ouro. Você não vê o vizinho por aí de trelelê com ninguém, por isto está milionário.

− Quantas vezes vou ter de repetir, mamãe: o moço herdou a fortuna e ainda por cima é surdo-mudo.




quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Microcontos (085 a 090/2017)

Flor silvestre. Foto: Francisco Ferreira.


Microcontos de 8/4/17 - Palavra do dia: CALOTE



I

−Majestade, perdão! Mas queria lembrar-lhe daquelas ovelhas...

− Cale-se pastor insolente. Todos os recursos da nação estão empenhados no esforço de guerra. Vá lá e vença a batalha.

Indignado com o calote, Davi errou a pedrada.



II

Quando Lorde Voldemorte perdeu a batalha contra o bebê Potter, nas vielas do Beco Diagonal, os bruxos do submundo comentavam aos sussurros:

− Ae, mano, o Olivares é sinistro. O patrão deu o calote na varinha e se ferrou. O cara vendeu pra ele uma varinha made in China.



III

A placa na fachada do armazém não deixava nenhuma dúvida sobre a segurança do negócio.

K. LOT IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO



IV

Depois de uma vida dando o calote em todo o mundo, Caronte exigiu-lhe o pagamento em dobro. E adiantado. Sua reputação o precedia.



V


− Pelo amor de Deus, senhor. Tenho filhos pequenos, eles não sobreviverão sem mim. Volte daqui a 6 meses pelo menos.

O gato acedeu, mesmo sabendo que estava levando o calote. Neste tempo a andorinha já estaria no hemisfério norte.

VI

Dores intensas, inapetência e fraqueza geral. Tudo dizia que não estava bem. O médico de sorriso amável, fala mansa e confiável, disse-lhe:
− Não se preocupe Sr. Alberto, logo o senhor estará melhor do que nunca.
Como deu calote nas aulas de literatura, não compreendeu a ironia por trás metáfora.










quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Microcontos (082 a 084/2017)


Flor silvestre. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos do dia 7/4/17 – Palavra do dia: OVO



I

E nesta madrugada, com o calor dos mísseis tomahawk, eclodiu o ovo da serpente.



II

Voltou a si, atordoado e em total amnésia. Só recobrou totalmente os sentidos quando Dr. Lecter delicadamente lhe indicou o prato e os talheres a sua frente e disse:

Sirva-se, meu caro amigo. Os ovos estão uma delícia.

Instintivamente apalpou as partes íntimas. As mãos não tocaram nada.



III

Na pelada entre as hostes do céu e as falanges do inferno, o goleiro Miguel ao cobrar um tiro de metas, acertou em cheio a terra e destruí toda a vida do planeta. Mais tarde, explicando-se para o Técnico dos técnicos, se defendeu:

Professor não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos.


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Microcontos (080 e 081/2017)


Monarca. Foto: TLGMorais.

Microcontos de 6/4/17 – Palavra do dia: SOLDADO



I

No peito, medalhas e coração vazio. A mãe abraçando-o repetia o quanto era feliz pela volta do herói. Os campos semeados, os prédios intactos, os camponeses voltando para suas famílias.  O soldado agradeceu a Deus por a guerra ter sido num palco tão longe dali. Se enforcou no laço do remorso.



II

Fabiano ainda sentia a pisada do soldado amarelo, mas já lhe não doía o pé, só o coração. Ali na caatinga, não seria difícil dominá-lo e passar-lhe ao fio do facão. Se sentiu tentado mas, a obediência servil, falou bem mais alto: “governo é governo”. Sua vingança: o medo do cabra.



−Cabra cagão!






segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Microcontos (077 a 079/2017)


Árvores. Foto: Eliane Montezano

Microcontos de 5/4/17 – Palavra do dia: REMÉDIO



I

Depois de anos de humilhação, assédio moral, má remuneração, de trabalho levado para casa que não era remunerado, exposição pública de seus pequenos deslizes e negligência de seus esforços, adoeceu. E para isto só havia um remédio eficaz: a morte.

Sorriu ao despejar o veneno no suco do patrão.



II

A cidade sitiada, suprimentos acabando, as fontes de água potável cortadas. Reunido o conselho de guerra, decidiu-se pelo rendimento. O remédio era amargo, mas também o único. Quando viu seus concidadãos serem passados ao fio da espada, o prefeito lamentou:

−Sanamos a doença, mas matamos o paciente.



III

A terrível enxaqueca deixava Eptemeu enlouquecido há dias.

−E onde estaria Pandora, que não lhe vinha socorrer? – esbravejou.

Procurando um remédio, qualquer lenitivo para a maldita dor, viu nos guardados da mulher aquela caixa.

−Em necessarie de mulher se acha de tudo. – pensou ao abrir a caixa...




domingo, 24 de setembro de 2017

Microcontos (074 a 076/2017)


Enchente no córrego do Ginásio. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 4/4/17 – Palavra do dia: MULHER



I

O império atordoou-se quando Pompéia anunciou o seu divórcio do imperador. Acorreram as amigas e senadores para dissuadi-la. Até Publius Clodius foi chamado a intervir. Tudo em vão. Questionada sobre o motivo de tão radical decisão, proferiu:

−À Pompeia não basta parecer, tem de sentir-se mulher.



II

Não temeu, pois era o seu reino. Adoecido pela barbárie, mas ainda assim o seu reino. Eis que, vindo de todos os recantos do submundo, os demônios a atacaram. Dilaceraram suas carnes, fizeram-na sangrar, mataram-na. Seu único crime: querer ser mulher. E, no reino de Dandara, a punição é a morte.



III

No julgamento de Lilith, pergunta o arcanjo:

−Criada da mesma matéria, coproprietária do Éden, senhora do planeta, primogênita da criação, aquela à quem o Pai confiou a missão de ser mãe da humanidade. Porque desdenhaste o Pai e seu marido, para viver com demônios?

−Porque sou mulher, jamais um objeto




sábado, 23 de setembro de 2017

Microcontos (071 a 073/2017)


Flores de Ipê. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 3/4/17 – Palavra do dia: VELEIRO



I

Embarcou no último instante e agarrou-se ao convés. Enjoada de tanta água e de ser jogada contra os mastros, resistiu à tormenta e aportou da viagem que pareceu durar séculos. Mal o caminhão de mudanças parou e o veleiro estabilizou-se na garrafa, a formiga tratou de escapar por um buraco da rolha.



II

A marinha do mundo todo está em choque com as últimas notícias. Nove veleiros encontrados à deriva, sem os mastros principais e nem sinal dos tripulantes e passageiros. Numa ilhota desabitada do Atlântico, à guisa de mesa, Posseidon, Zeus e Hades jogam porrinha valendo carne fresca de marinheiros.

III


Sua vida era veleiro ancorado, desde que ela o deixara. Balouçava ao sabor das marés mas não se movia, preso ao cais e ao passado.
−Dez anos. – pensou. Era hora de mudar, ela não voltaria mais.
Decidiu que tomaria novo rumo. Fazer-se ao mar. Com um caco de vidro cortou os pulsos e as amarras.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Microcontos (068 a 070/2017)


Flores de Juá. Foto: Francisco Ferreira.

Microconto de 2/4/17 - Palavra do dia: BEIJO



I

Desempregada, doente, geladeira vazia, prazo de três dias para desocupar o barraco. Fez um balanço na vida: o que a mantinha ainda fiel? Porque não aceitar a oferta de uma vida de luxo e riquezas ao lado do outro?  Resoluta caminhou até o bar da encruzilhada e com um beijo ardente selou o pacto.



II

O circo fechado, toda a trupe estava arrasada com a morte da bailarina mais bela da companhia. O pai, mágico e palhaço, não se conformava. E a todo momento repetia consternado:

−Era para ser só um beijo. Era para ser só um beijo. Onde está o maldito preguiçoso do tratador que não alimentou os leões?



III

À porta da cela, a recebeu com um beijo e surpreendido pelo abade, pôs se a berrar:

−Súcubo. Súcubo.

Quando a viu arder na fogueira, confessou ao crucifixo roto na parede:

−Perdão, Senhor, era apenas uma camponesa morrendo de fome.

Sabendo que o inferno lhe esperava, se atirou da torre da abadia.








quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Microcontos (063 a 067/2017)


Monarca. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 29/1/17 – Palavra do dia: QUADRADO



I

O triângulo amoroso era mal visto por todos no bairro, afinal ele era um bom menino e temiam que o marido da moça, um traficante perigoso, acabasse mandando-o para um retângulo de terra, num cemitério clandestino.



II

Os poucos metros quadrados de sua cela no convento eram o seu único refúgio contra a fúria de seus perseguidores.



III

Não era quadrado, iria se virar. Era o que dizia para a família, toda vez que ficava devendo na praça.



IV

De um pequeno quadrado na parede da pirâmide Moisés observou o deserto. Nada se movia, silêncio absoluto. Juntou-se a família e orou pela vida de seu primogênito. Sentiu alívio, quando acordou e se lembrou que era israelita. Mas chorou a sorte daquele com quem foi criado como irmãos.



V

Símbolo da perfeição, mandou tatuar um quadrado no chacra do terceiro olho. Desde então sua vida se transformou. Tudo estava correndo a mil maravilhas, se tornara um grande fornecedor e progredia, até que na invasão do morro pela quadrilha rival, uma bala atravessou a tatuagem num tiro perfeito.






quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Microcontos (061 e 062/2017)


Estrelas do céu (Maria Sem-vergonha). Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 28/1/17 - Palavra do dia: CRIANÇA



I

A criança na mira do miliciano, fechou os olhos, sabia de seu fim. Pensou na mãe presa, nos irmãozinhos em casa com a avó cega, no pai que nunca conheceu. Uma lágrima rolou... Era forte, não iria enfrentar a morte assim, derrotado... e sorriu.

− Corta! Você não pode sorrir nesta cena.



II

Quando vovó conheceu aquele alemão, perdeu a cabeça. Logo ela, esposa, mãe e dona de casa exemplar. A família toda sofria. O vovô, coitado, vivia acabrunhado e pelos cantos, impotente diante daquele caso de traição. Só ela não queria saber de nada que não fosse brincar de criança com o Alzheimer.


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Microcontos (059 e 060/2017)


Cavalos. Foto: Francisco Ferreira.


Microcontos de 27/1/17 - Palavra do dia: FERRADURA



I

O jovem padre já não sabia mais o que fazer para evitar o assédio da moça. Quando ela lhe sussurrou no confessionário: “quero ser sua, padre e nem me importo de virar mula-sem-cabeça”, quebrou os votos.

Três dias depois a encontraram na sacristia, degolada e com uma ferradura pregada em cada pé.



II

Quando o azarão ganhou o Grande Prêmio e pagou 1000 por 1, Sigmund trocou de carro, comprou casa nova e dava festas dizendo que havia ganho nas corridas.

− Mas naquele domingo, estávamos pescando, como você poderia ter apostado?

− Só cobrei comissão por afrouxar as ferraduras dos outros cavalos.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Microcontos (057 e 058/2017)


Piso Original do Ginásio São Francisco. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 26/1/17 - Palavra: DOMADOR



I

Adorava seus jogos eróticos. Quando ela sorriu maliciosa e empurrou-o para o quarto dizendo: “vamos brincar de domador?”, seria o clímax se os olhos que brilharam no escuro fossem os dela.



II

Nascera com espírito selvagem e coração indomável. O pai tratou de casá-la, aos 12 anos, com o domador aposentado de um circo falido. Na noite de núpcias devorou-lhe o coração. Único órgão que ainda funcionava.








domingo, 17 de setembro de 2017

Microcontos (056/2017)


Cão das Cavernas. Foto: Francisco Ferreira.

Microconto de 25/1/17 - Palavra do dia: HUMANO



Aquela carne de caça não lhe caiu bem. Sobreveio a letargia e depois o delírio de transformar-se em animal. Acordou desorientado, naquele corpo de lobo. A alcateia abatida a tiros foi a dolorosa comprovação de que não havia tido nenhum pesadelo. Havia se transformado em humano.

sábado, 16 de setembro de 2017

Microcontos (053 a 055/2017)


Ponte sobre o córrego do Ginásio. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos do dia 24/1/17 - Palavra do dia: TREM



I

Ninguém tinha sossego na família desde que Desmond, há meses, vinha acordando no meio da noite, chorando e se escondendo de um trem imaginário. Para descansar o internaram no manicômio. Naquela noite, o trem descarrilou e atingiu a casa. Finalmente descansam em paz.



II

− Beque manero. Pô, que viagem, mano!

Ajeitou o fone de ouvido. Trem das 7 horas de Rauzito. Saiu pulando amarelinha nos trilhos negros da ferrovia.

Hora do óbito: 7h30’ aproximadamente, anotou o legista no laudo, com a seguinte observação: o trem se atrasou...



III

Ói sisséora de minin dest’idade chegá incás... Cê qué me matá trem? Eiss’quecequé? Só pode. Crendospadre, marivaleime. Oncêtava?  Comquemcevei? Qué me mata do coração?

PS.: Em mineirês avançado.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Microcontos (051 e 052/2017)


Mariposa. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 23/1/17 - Palavra do dia: CABO



I

Não entendia porque a esposa e o melhor amigo insistiram tampo para que fizesse aquela escalada. Sabiam de sua acrofobia. Até que prendeu-se ao cabo de aço cortado.



II

O carro à beira do precipício, seguro apenas por arbustos, começa a incendiar-se. As alternativas: desprende o cinto de segurança e cai num abismo de mais de 300 metros ou morre queimado.

Abriu o cinto, segurou no cabo da gadanha, abraçou-se ao ceifeiro e nem sentiu a queda.


quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Microcontos (049 e 050/2017)


Calango. Foto: Francisco. Ferreira.

Microcontos de 22/1/17 - Palavra do dia: PAREDE



I

Jamais experimentara tanta paz, nem tamanha ausência de dor. Sentia-se livre, leve, como se nem a gravidade agisse mais sobre ele. Parecia um sonho que se transformou em pesadelo, quando na tentativa de acender a luz, atravessou a parede.

17º Lugar - 3ª Semana do II Prêmio Escambau de Microcontos, em 3/2/17.



II

Construiu um amplo porão para esconder-se dos olhos e ouvidos do mundo. Gabava de ter uma vida ilibada, um verdadeiro livro aberto, não tinha telhado de vidro. Mas as paredes...


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Microcontos (047 e 048/2017)


Pimentas. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 21/1/17 - Palavra do dia: TRANÇA

I
Enquanto cortava-lhe as tranças, a cafetina falou:
Já lhe disse um milhão de vezes: bobo da corte, príncipe encantado ou rei da Inglaterra, tanto faz.  Se não pagar não come.

II
Depois que contou-lhe a história de Rapunzel, Jane foi morar com as hienas, do outro lado da selva. Não suportava mais tantos torcicolos.




terça-feira, 12 de setembro de 2017

Microcontos (045 e 046/2017)

Hibisco. Foto: Francisco Ferreira.


Microcontos de 20/1/17 - Palavra do dia: OCUPAÇÃO


I
A ocupação se deu de forma rápida e silenciosa. Acharam uma brecha no sistema, invadiram, derrotaram as tropas de defesa e em menos de 24 horas estava tudo tomado.
Causa mortis: Sepse.


II
Na entrevista coletiva o secretário de segurança dizia: “A ocupação foi um sucesso, estouramos 4 bocas, apreendemos 300 kg de drogas, prendemos 20 elementos e não perdemos nenhum policial.” Enquanto isto o rabecão recolhia o corpo de uma criança que não chegou aos 5 anos (4 anos e 320 dias) ...

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Microcontos (043 e 044/2017)


Mariposa. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 19/1/17 - Palavra do dia: COMIDA


I

Adorava forró. Gostava do marido... Ele, só gostava de seus canários e de ficar em casa fazendo alçapões. Ela caprichava no visual e na comida. Dada a hora do forró, dizia-lhe, carinhosa:
− O cumê tá no fugão, qué cumê, ocê come. Num que, num come. Ieu? Ieu tô só soitano.

II

Era o número um no sindicato. Decidia quem viveria e quem, não. Deu bobeira, rodou e foi pro xilindró. Lá, sozinho, foi sub metido... Pensava: "caititu fora da manada, vira comida de onça."

domingo, 10 de setembro de 2017

Microcontos (042/2017)


Flor de Juá. Foto: Francisco Ferreira.

Microconto de 18/1/17 - Palavra do dia: LIVRO

Edição única e luxuosa, não era livro que se lia só pela capa, gozava-se em cada linha e traços. Terminou com as páginas rasgadas e manchadas de sangue por um leitor possessivo.




sábado, 9 de setembro de 2017

Microcontos (040 e 041/2017)


Ipezinho. Foto: Francisco Ferreira.


Microcontos de 16/1/17 - Palavra do dia: JUIZ



I

Desde menino acostumou-se à justiça cega e paraplégica. Ali no morro era ainda pior.  Fez-se juiz do tráfico e notabilizou-se pelas sentenças curtas e severas.



II

Seu sonho era a magistratura, mas como pobre não tem vez mesmo, atingiu o máximo em sua carreira de juiz de rinha de galos.


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Microcontos (038 e 039/2017)


Margaridas. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 15/1/7 - Palavra do dia: GAIVOTA



I

Ao pisar os céus com suas asas de cera e penas de gaivota, Ícaro sentiu-se um anjo. Quando Lúcifer contou-lhe que é exatamente a vaidade que faz os anjos caírem já era tarde para novos voos.



II

Mal chegara no forró e sentiu aqueles olhos fixos nela. Tão magnéticos e expressivos olhos, voz inebriante e o toque que lhe fazia sentir-se nas nuvens. Só depois do amor foi que reparou o moço bonito tinha pés de gaivota e teve certeza: estava gerando um filho de boto.


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Microcontos (037/2017)


Flores Silvestres. Foto: Francisco Ferreira.

Microconto de 13/1/17 - Palavra do dia: TRATOR

Mal começara os trabalhos naquele terreno baldio e a senhorinha da casa ao lado ofereceu-lhe suco. Um mês depois encontraram seu corpo e mais doze ossadas humanas naquele lote. Da senhora e do trator nem sinal...


17° Lugar – II Prêmio Escambau de Microcontos do site ESCAMBANAUTAS (I Semana), em 25/1/17.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Microcontos (030 a 036/2017)


Cogumelos. Foto: Francisco Ferreira.

Microcontos de 7/1/17 - Palavra do dia: TREVO



I

Sobrevivera à rodovia da morte, ao viaduto das almas e aos milhares de curvas do desespero, mas diante daquele trevo, tremeu. À frente o indizível, o desconhecido, a incerteza...quando ouviu da mãe:

− Se não nos apressarmos vai se atrasar mais do que a noiva. Faltam ainda 10 km. 



II

Quando passaram pela quarta vez no mesmo trevo, não se conteve:

− Você idiota ou o quê? Será que ainda não percebeu que é a quarta vez que toma a estrada errada?



III

Olhou com tristeza para as quatro patas do amigo penduradas por fora da bolsa de caça, disse a coelhinha aos irmãozinhos:

− Por isto é que sempre lhes alerto: não comam daqueles trevos de quatro folhas. Eles dão azar.



IV

Comprou o trevo de quatro folhas com os últimos trocados que lhe restavam do prêmio da mega. Estava mais do que na hora de trocar de amuleto.



V

Não encontrou o malandro que enganara seu filho e nem recuperou sua vaca, ultimo bem que lhe restara, mas, pelo menos, conseguiu trocar os inúteis grãos de feijão por um trevo de quatro folhas. Isto é que era sorte.



VI

A placa crivada de balas no trevo de Pacificolândia foi o claro indicativo de que escolheu errado o roteiro de férias e jamais viajaria pela Agência de Turismos “171 Razões para Viajar”.



VII

Uma folha a mais, foi tudo de que precisou para deixar a terra em que nasceu e viajar pelo mundo todo na carteira do piloto. Era de fato um trevo de sorte.


21° Lugar – II Prêmio Escambau de Microcontos do site ESCAMBANAUTAS (I Semana) – Maceió (AL), em 18/1/17.