Flor Silvestre. Foto: Francisco Ferreira.
Micro Contos de 12/4/17 – Palavra do dia: CICATRIZ
I
Era sua única função há milhões de anos, mas quando se deparou com
aquela alma de apenas 8 anos, enquanto as recolhia entre vítimas de Idlib,
estremeceu: seu olhar era de alívio e o
cheiro era doce, apesar das cicatrizes que lhe cobriam todo o corpo astral.
Pela primeira vez o Ceifeiro chorou.
II
Depois de anos de abuso e agressões, sempre silenciada pelo medo, rompeu
o as amarras. Julgada e condenada pela família e sociedade, recorreu. Seu
alvará de soltura foi grafado nas feias cicatrizes dos pulsos. Foi absolvida em última instância.
III
Em nome do pai, traiu sua fé e contrariou seus princípios, alegando
serem estigmas aquelas cicatrizes.
Em nome do filho, as tolerou por anos.
Mas só quando as denunciou, foi em seu
próprio nome. E não foi em vão, pois foi em nome de todas as mulheres...
IV
Ele fora responsável por todas as suas marcas dos últimos 20 anos.
Incluindo a sua mais recente cicatriz na base do polegar direito, fruto do
único disparo de pistola que efetuou na vida.
V
As marcas ancestrais de séculos de cativeiro e maus tratos são, na alma,
uma cicatriz que, a cada novo ato de preconceito, volta a sangrar. Por isto
choro às vezes... por isto luto sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário