terça-feira, 3 de outubro de 2017

Microcontos (105 a 109/2017)


Flor Silvestre. Foto: Francisco Ferreira.

Micro Contos de 12/4/17 – Palavra do dia: CICATRIZ



I

Era sua única função há milhões de anos, mas quando se deparou com aquela alma de apenas 8 anos, enquanto as recolhia entre vítimas de Idlib, estremeceu:  seu olhar era de alívio e o cheiro era doce, apesar das cicatrizes que lhe cobriam todo o corpo astral. Pela primeira vez o Ceifeiro chorou.



II

Depois de anos de abuso e agressões, sempre silenciada pelo medo, rompeu o as amarras. Julgada e condenada pela família e sociedade, recorreu. Seu alvará de soltura foi grafado nas feias cicatrizes dos pulsos.  Foi absolvida em última instância. 



III

Em nome do pai, traiu sua fé e contrariou seus princípios, alegando serem estigmas aquelas cicatrizes.

Em nome do filho, as tolerou por anos.

Mas só quando as denunciou, foi em seu próprio nome. E não foi em vão, pois foi em nome de todas as mulheres...



IV

Ele fora responsável por todas as suas marcas dos últimos 20 anos. Incluindo a sua mais recente cicatriz na base do polegar direito, fruto do único disparo de pistola que efetuou na vida.



V

As marcas ancestrais de séculos de cativeiro e maus tratos são, na alma, uma cicatriz que, a cada novo ato de preconceito, volta a sangrar. Por isto choro às vezes... por isto luto sempre.




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